Preso em 17 de dezembro de 2018 junto com Ricardo Coutinho e outros 15 integrantes da organização criminosa, como denominou o MP, Waldson detalhou a participação de deputados federais e estaduais no esquema de propinoduto. Uma parte da confissão qualificada foi revelada onde o ex-secretário assumiu como negociou contratos fraudulentos para a compra de livros e afirmou que o recebimento de propina tinha o aval do então governador Ricardo Coutinho e do irmão dele, Coriolano Coutinho.
A Operação Calvário investiga um esquema criminoso que teria se instalado durante a gestão de Ricardo Coutinho como governador da Paraíba. São investigados indícios de desvios de dinheiro em várias áreas do Estado, como Saúde, Educação, Turismo, dentre outros. Depois de Livânia Farias (então secretária de Administração) e Ivan Burity (Turismo), Waldson, compareceu à Superintendência da Polícia Federal em janeiro deste ano para dar início aos depoimentos atinentes à sua delação.
Coutinho foi solto depois de um habeas corpus concedido pelo ministro Napoleão Nunes Maia Filho, do Superior Tribunal de Justiça. Um novo pedido de prisão do ex-gestor foi formulado pelo Ministério Público, aguardando apreciação do desembargador Ricardo Vital, relator do processo no Tribunal de Justiça da Paraíba. Em um dos áudios reunidos pela Operação Calvário, Waldson aparece combinando com o procurador-geral do Estado, Gilberto Carneiro e um empresário não identificado, como seria o procedimento para que a empresa em questão fosse a vencedora de uma licitação na área da Saúde.
Confira alguns detalhes da delação premiada feita por Waldson de Souza:
Ele detalha, por exemplo, a participação da deputada estadual Estela Bezerra e da ex-prefeita do Conde, Márcia Lucena, na Orcrim Girassol. Ambas foram presas em dezembro de 2019, depois soltas. Estela foi secretária de Comunicação e Chefe de Gabinete do Governador. Antes de ser eleita prefeita em 2016, Márcia havia sido secretária de Educação.
Waldson diz que Estela tinha a função de cooptar prefeitos e cabos eleitorais para o PSB, por meio do uso da máquina pública, sobretudo na troca de cargos comissionados, além da incumbência de impedir procedimentos investigatórios no Poder Legislativo. Ele afirma que ela foi demasiadamente reforçada com nomeação de sua companheira Cláudia Veras em 2016 para a pasta da Saúde, quando em verdade já comandava a CINEP, FUNESP, ESPEP, Secretaria da Mulher e Diversidade Humana, grande parte da Educação, parte da Secretaria de Esporte, a Casa Civil, o IPHAEP, Gerência Regional de Saúde de Cajazeiras, Hospital de Cajazeiras, Gerência de Educação de Cajazeiras, Sudema, dentre outros espaços importantes.
Com esse poder de nomear as pessoas no Estado ela capitalizava apoios e usava a máquina pública em troca de apoio perene de lideranças do meio mais popular e outras lideranças políticas já consolidadas, também servia de sustentáculo político para barrar determinados atos legislativos da oposição e participava de forma efetiva para impedir procedimentos investigatórios do Poder Legislativo contra o governo.
Com relação à Márcia Lucena, Waldson lembra que ela ocupou a Secretaria de Educação após a saída de Afonso Scocuglia, e, posteriormente, foi escolhida por Ricardo Coutinho como candidata do PSB à prefeitura do Conde, elegendo-se em 2016. Waldson elenca que Márcia, assim como Estela, gozava de relação extremamente próxima com Ricardo, e, ao junto com Cláduai Veras, atuava na estruturação das operações delituosas na pasta da Educação, seguindo mesmo esquema na gestão municipal do Conde.
Descrevendo Ricardo Coutinho como uma pessoa de temperamento agressivo e que sempre teve autoridade sobre seus subordinados, Waldson afirma que o ex-governador detinha o papel de realizar as negociações importantes, centralizando as tomadas de decisões sobre a atuação política da organização criminosa, sobre a parte administrativa do governo estadual, e, principalmente, a parte financeira de cada pasta do Estado — principalmente as que envolviam grandes contratos — e que, partir do ano de 2011, criou um verdadeiro propinoduto, que alimentava financeiramente seu patrimônio econômico e suas campanhas eleitorais e de seus aliados políticos, via caixa dois.
Quanto ao deputado federal Gervásio Maia (presidente da Assembleia Legislativa durante o biênio 2018/2018), Waldson diz ele era responsável pela cooptação de deputados para a base parlamentar, por meio de direcionamento de recursos e verbas de gabinete. Esquema, inclusive, utilizado para formar sua base eleitoral para a eleição de 2018, na qual se elegeu deputado federal.
Ademais, relata Waldson, Gervásio recebia quantia periódica, repassada por Livânia Farias (então secretária de Administração) por ordem de Ricardo Coutinho, para fazer frente a gastos com deputados. Outrossim, indicava pessoas a serem contratadas pelas Organizações Sociais que atuavam em parceria com o Estado, com o único fito de receber o salário, sem a devida contraprestação.
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