Reportagem do Fantástico da Rede Globo, denunciou o desvio de verbas de instituições de caridades por parte de bingos:
Muita gente já deve ter visto anúncios, propagandas de títulos de capitalização vendidos em nove estados. Quem participa do sorteio concorre a um monte de prêmios, como carros e casas. Uma parte da arrecadação deve, por lei, ser destinada a instituições de caridade. Só que a Polícia Federal descobriu que milhões de reais estão sendo desviados, e não chegam a quem mais precisa.
Dona Graça trabalha muito. De manhã até a noite.“A gente recolhe material descartável em lojas, em hotel, restaurante, clínicas, hospitais”, explica Graça Cordeiro, presidente do Lar da Esperança.
E o dinheiro que recebe com a reciclagem não fica para ela, não. Há 25 anos, Dona Graça criou o Lar da Esperança, uma instituição de caridade em Teresina, Piauí. Ela cuida de 150 pessoas pobres que têm o vírus da aids.
Dona Graça: A gente sempre teve muita dificuldade. Falta aqui. Falta acolá. É consertar alguma coisa. Fazer outros reparos.
Fantástico: A gente vai acompanhar o dia da senhora hoje, hein?
Dona Graça: Está bom.
Mas será que o Lar da Esperança poderia ajudar mais gente? A Polícia Federal diz que sim. E não só essa entidade, várias outras!
O problema é que milhões de reais, que elas deveriam receber, estariam sendo desviados.
Fantástico: O que a senhora faria com esse dinheiro?
Dona Graça: Ah, eu ia investir aqui dentro. Eu ia terminar de fazer essa construção.
Os investigadores descobriram um escândalo: que quem está tirando dinheiro das instituições é um grupo de empresários, que vende títulos de capitalização. Esses títulos eram vendidos em nove estados e davam direito a participar de sorteios.
Os títulos eram vendidos geralmente na rua mesmo, por R$ 5 cada um.
A dona Graça, do Lar da Esperança, de Teresina, apostava na sorte: comprou mais de cem dessas cartelas.
Dona Graça: Quem sabe a gente leva um prêmio, que já ia servir.
Fantástico: A senhora ia investir tudo aqui?
Dona Graça: Com certeza porque aqui está precisando de muita coisa.
Esses títulos só podem vendidos se a metade do dinheiro arrecadado com a venda for para uma instituição de caridade.
No caso dos títulos suspeitos, os empresários escolheram o Instituto Ativa Brasil, de Belo Horizonte. Nas ruas, os vendedores confirmam:
Vendedora: Doado para o Instituto Ativa Brasil.
Fantástico: É instituição de caridade?
Vendedora: É.
Interessante é que eles reforçam que o dinheiro vai para uma instituição de caridade. É sempre assim.
Na TV, o mesmo discurso.
Comercial de TV: Você concorre a prêmios e cede os direitos de resgate ao Instituto Ativa Brasil. ‘Bahia dá sorte’, custa pouco sonhar.
A Polícia Federal afirma: a Ativa Brasil, na verdade, fazia parte da fraude. O instituto tinha que distribuir o dinheiro do título para pelo menos outras 26 entidades, em nove estados. Até mandava um pouco, para não chamar a atenção. Mas de acordo com as investigações, a maior parte do dinheiro era desviada.
Na Paraíba, a Ativa mandava R$ 3 mil por mês para a Apae, de Campina Grande. Para a Polícia Federal, nem perto do valor correto: R$ 75 mil.
Gabrielle tem 12 anos. Duas vezes por semana, ela e a mãe saem de Junco do Seridó, onde moram, e vão até Campina Grande, para fazer tratamento na Apae.
“Na Apae? É uma maravilha o tratamento. Ela não falava muito. Ela não falava nada. Hoje, ela está bem melhor”, lembra Marizete dos Santos, mãe de Gabrielle.
Gabrielle viaja 100 quilômetros em um micro-ônibus da prefeitura, que também leva doentes para hospitais. Contando ida e volta, são cinco horas na estrada. Para conseguir atender 400 pessoas, a Apae de Campina Grande gasta R$ 65 mil por mês. Ou seja, se a ativa pagasse os R$ 75 mil, sobraria dinheiro e daria para atender mais pacientes.
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