Enquanto o deputado Tião Gomes anunciava uma chapa para o segundo biênio da atual legislatura da ALPB com a vaga de presidente em aberto, oferecida em seguida ao presidente já eleito, Adriano Galdino, que já conduzia os trabalhos, foi impossível não sentir o cheiro da traição navegando pelas ondas do rádio.
É improvável que a manobra tenha sido urdida naquele instante para não dar muito tempo para Adriano Galdino pensar para tomar a decisão, que o tornará persona no grata do governador Ricardo Coutinho.
O mais provável é que Galdino tenha sido procurado por Tião Gomes e o bloco oposicionista bem antes, talvez depois da reunião que a base governista teve com o governador João Azevedo, ontem, na Granja Santana, para fechar os detalhes finais da eleição e ratificar os nomes do próprio Galdino e de Hervázio Bezerra, nessa ordem, para presidirem a ALPB pelos próximos quatro anos.
Meio sem acreditar que aquilo acontecia de verdade, e não era uma espécie de pegadinha do repórter, escutei que Adriano Galdino não tinha precisado de mais do que cinco minutos para aceitar ser o candidato da oposição e derrotar em seguida Hervázio pelo placar acachapante de 23 a 13.
Aliás, a docilidade com que Galdino foi tratado o tempo todo pela oposição deveria ter colocado uma pulga atrás da orelha do PSB.
O recado foi dado. O recado foi dado e que João Azevedo entenda como quiser.
A derrota que a base governista, em aliança com a oposição, impôs a João Azevedo − e a Ricardo Coutinho − elegendo para o segundo e estratégico biênio uma mesa recheada de oposicionistas, pode ter várias motivações, mas os objetivos são cristalinos.
Pelo lado da oposição, estimular o tensionamento na relação entre João Azevedo e Ricardo Coutinho – e dispor generosos espaços na mesa exatamente, no período em que o jogo para 2022 começará a ser decidido, é fundamental.
Até lá, o tom da oposição deve ser mais brando como a insinuar a possibilidade de uma aproximação futura com JA, mas na condição expressa de que RC seja mantido longe do governo.
Quando o jogo começar de verdade, e com a faca do pescoço de João Azevedo, Galdino pode se apresentar como o mediador para uma aproximação entre essa base parlamentar que ele lidera a partir de hoje, porque o novo presidente da Assembleia perdeu definitivamente a confiança do PSB e essa relação será fundada desde agora na acomodação de interesses.
Pelo lado dos “governistas”, a intenção é lembrar ao novo governador o quanto eles têm saudades dos tempos em que eram “bem tratados” pelo ocupante do Palácio da Redenção, quem quer que fosse ele. E agora eles têm a Presidência da Assembleia para medir forças.
No primeiro teste de João Azevedo ele se deu mal. Muito mal. Vamos ver se ele consegue segurar o tranco.
Por Flávio Lúcio - Cientista Político
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