Prefeitos de vários municípios paraibanos descobriram o segredo da multiplicação dos médicos, no programa Mais Médicos. Com a saída dos profissionais cubanos, não demorou para que as 128 vagas abertas fossem preenchidas por brasileiros. Em três dias, não havia mais vagas disponíveis. O problema, mesmo, foi descoberto depois. Pelo menos 60% dos inscritos para o programa, bancado com recursos federais, vieram da atenção básica. Ou seja, eram médicos do programa Estratégia Saúde da Família. O levantamento foi feito pelo jornal O Globo e mostrou situações similares na Bahia, com 53,5% dos 750 selecionados, e Rio Grande do Norte, com 70,5% dos 139 profissionais alocados.
Alguns motivos podem ser apontados para a onda migratória. O primeiro diz respeito ao salário pago pelo governo federal de R$ 11,8 mil. Tem que se levar em consideração, ainda, que os profissionais do Mais Médicos têm direito a 13° salário, férias e uma carga horária que pode ser convertida, em parte, em horas para se dedicar aos estudos. Essas vantagens fizeram com que 97,2% das 8,5 mil vagas fossem preenchidas em seis dias. A secretária municipal de Saúde de Itabaiana (PB), Soraya Lucena, conta que perdeu três dos dez médicos de Saúde da Família que ela tinha. Ela afirma que as condições ofertadas pelo programa se mostram mais atrativas do que as do município, que paga R$ 10 mil via contrato, sem previsão de férias e com carga horária de 40 horas semanais:
“Não temos como competir, porque no Mais Médicos eles recebem R$ 11,8 mil, têm férias e parte da carga horária dedicada aos estudos. Descobriram um santo para cobrir outro, como diz o ditado aqui na Paraíba. Minhas equipes vão ficar desfalcadas”, disse ao O Globo a secretária de Saúde. A fuga de profissionais ocorre principalmente das equipes formadas a partir do programa do governo federal Estratégia Saúde da Família. O município recebe recursos do Ministério da Saúde por grupo multidisciplinar formado com médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e agentes comunitários. Mas é preciso investir dinheiro próprio para contratar os profissionais. O salário médio dos médicos pagos pelas prefeituras gira em torno de R$ 10 mil, segundo gestores do Nordeste ouvidos.
Questionado sobre o problema ocasionado com a migração dos profissionais, o Ministério da Saúde restringiu-se a dizer que os médicos da Estratégia Saúde da Família só podem atuar em municípios com perfis iguais ou de maior vulnerabilidade do que aqueles onde já trabalham, segundo regras do edital. A pasta não comentou as críticas dos gestores sobre o reflexo na rede regular com a saída dos profissionais.
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