quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Silêncio de delator na CPI da Petrobrás diz muito sobre o país...

“O senhor sabe que, hoje, o nome que o senhor falar está morto”, disse o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) a Paulo Roberto Costa. Ele chegara à CPI da Petrobras havia quase três horas. Desde o início da sessão, invocara o seu direito constitucional ao silêncio. Mas Mabel queria que o petrodelator ao menos retirasse da fogueira os nomes que ardem no noticiário como beneficiários de propinas.
Entre esses nomes, há dois caciques do partido de Mabel: Renan Calheiros e Henrique Alves, presidentes do Senado e da Câmara. “Ninguém sabe se o senhor falou ou não os nomes dessas pessoas”, lamuriou-se o deputado. O ex-diretor da Petrobras não se deu por achado: “Desculpe, mas reitero minha posição, me permito ficar calado.”
Correligionário do ex-presidenciável Eduardo Campos, incluído depois de morto na lista de supostos alvos da delação de Paulo Roberto, o deputado Júlio Delgado voltou à carga: “…Vou tentar mais uma vez: o senhor confirma esses nomes todos que já foram citados nos órgãos de imprensa? Confirma a participação deles em algum esquema da Petrobras?” E o delator: “Desculpe, mas nada a declarar.”
O silêncio do delator era previsível. Se abrisse o bico, ele correria o risco de perder os benefícios judiciais que reivindica como prêmio no acordo de delação que firmou com a Procuradoria da República. Contra esse pano de fundo, o líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), cujo nome também foi lançado na fogueira de uma lista, animou-se a inquirir o não-depoente.
Eduardo Cunha soou inespecífico: “Quero saber se o depoente confirma a divulgação de nomes que supostamente teriam sido citados. E, se confirma, qual é a condição e qual é o fato?” Paulo Roberto manteve-se impassível: “Nada a declarar”.
A CPI andava esvaziada. Mas teve quórum máximo durante a sessão. Era grande a expectativa quando Paulo Roberto entrou na sala, pouco depois das 14h30 de terça. Em torno do seu rosto, um halo de glória se desenhava. Estava leve. Era como se a delação tivesse refinado anos de óleo pesado que ele carregava na alma.
Os lábios de Paulo Roberto mal conseguiam esconder um sorriso de orgulho. Ele agora exibe sob o nariz um bigode que evoca a figura de um bandoleiro de filme mexicano. Trocou a delicadeza do cinismo negacionista pela revolucionária admissão de culpa. Virou uma espécie de harakiri da máfia política que o bajulava. Fez isso na ante-sala das eleições gerais. (Josias de Souza)

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