A cantora paraibana Elba Ramalho será homenageada na edição deste domingo, 2, do programa “Fantástico”, da Rede Globo de Televisão, pelo transcurso dos seus 40 anos de carreira artística, com projeção no Brasil e no exterior. Natural de Conceição, no Vale do Piancó, Elba também receberá homenagens em Campina Grande (PB) e Caruaru (PE), durante apresentações agendadas para os festejos juninos. Dona de uma voz rara e de uma presença fulgurante no palco, Elba Ramalho faz parte do primeiro time das intérpretes brasileiras. Ela começou a se destacar no meio artístico através do teatro. Em 1966, em Campina Grande, participou do Coral Falado Manuel Bandeira, criado pela professora Elizabeth Marinheiro e chegou a montar o conjunto “As Brasas”, onde tocava bateria.
A decisão de trocar a Paraíba pelo Sul aconteceu em 1974, quando partiu para o Rio de Janeiro com o grupo “Quinteto Violado”. No Rio, Elba Ramalho trabalhou durante quatro anos no grupo teatral de Luiz Mendonça na montagem de peças musicais e ganhou o estrelato ao participar da Ópera do Malandro, de Chico Buarque de Holanda. Sua interpretação lhe valeu a indicação para quatro prêmios de Revelação de Atriz de 1978. No ano seguinte, gravou o seu primeiro disco, “Ave de Prata”, levando o show com esse nome por todo o Brasil. No começo, sofreu preconceito da própria crítica especializada em artes no Sul do País. A revista “Veja” chegou a defini-la como “dona de uma voz rascante”. Superou essas críticas com o tempo e com o trabalho de qualidade primorosa, ganhando o reconhecimento, também, de artistas de prestígio da MPB.
Durante diferentes temporadas, Elba Ramalho se apresentou pelo país a bordo do “Grande Encontro”, juntamente com Zé Ramalho, seu primo, Geraldo Azevêdo e Alceu Valença, artistas de Pernambuco. Numa entrevista que concedeu ao jornalista Severino Ramos e que integra o seu livro “Entrevistas de Biu Ramos”, Elba Ramalho contou que em Conceição, no interior da Paraíba, sonhava alto. “Desde menina, em Conceição, eu sonhava com o Rio de Janeiro”. Chegou a residir em João Pessoa por dois anos, tendo feito parte de um conjunto chamado The Goldens Girls, formado pelas meninas irmãs dos Quatro Loucos. “Eu toquei bateria por algum tempo com esse grupo, o que muito veio somar à iniciação do meu trabalho”. Elba admite que Chico Buarque lhe deu a maior força no início da sua carreira de cantora. “Ele acreditou muito no meu talento e foi outro anjo, padrinho, uma pessoa linda, por quem eu tenho o maior respeito e admiração. Uma pessoa totalmente desprovida de preconceitos que não pertence a grupos nem a igrejinhas. A ele eu agradeço a minha estreia como cantora. Na verdade, o meu grande momento foi quando parou aquele desejo de ser atriz na Ópera do Malandro, marcando o início da minha carreira de cantora”, relatou Elba.
Bastante cobrada para posicionamentos políticos, Elba Ramalho não gosta desse tipo de “patrulhamento”. Por inúmeras vezes confessou ser descrente dos políticos, dos partidos e das promessas que fazem ao povo. “Eu acho que o artista não tem que ter partido político, ele tem que ter consciência social. Ele é um cidadão que também paga conta de gás, de luz, de telefone, que sofre os problemas do país. A partir daí ele pode ter um posicionamento público, mas não de engajamento político, de ter que declarar voto em candidatos. Isso não combina com a atividade artística. Palco é para o artista, palanque é para o político. Eu não me misturo com política”, desabafou. Elba Ramalho reclamou que foi mal interpretada quando deu opiniões sobre o projeto de transposição de águas do rio São Francisco, deflagrado na Era PT, mais precisamente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela observou que não foi contrária, propriamente, à interligação de bacias muito menos à chegada de águas a localidades atingidas pela estiagem. “A minha preocupação foi com a preservação do meio ambiente, e vejo que este tema continua cada vez mais em pauta no país, diante dos desastres ecológicos, até com vítimas fatais, que têm se sucedido”, expressa.
Elba Ramalho chegou a se envolver em polêmica com a cantora Marília Mendonça, expoente da modalidade musical que passou a ser chamada de “sertaneja universitária”. A cantora paraibana deixou claro que a música que representa os sertanejos, os nordestinos, é a de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. “Quando chega o São João e você põe na vitrola o disco de Gonzaga, você tem a sensação de que aquilo existe de verdade, de que aquilo nunca vai ser ultrapassado, nunca vai acabar, porque é muito bom. O Brasil é tudo isso, no Brasil cabe tudo, contanto que não haja massificação nem discriminação. Mas o que representa a Paraíba é mesmo o forró”, revelou Elba, na entrevista a Severino Ramos em 1996. (Os Guedes)
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