segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Governo tirará economia da UTI? ‘Tudo dependerá da política’, escreveu FHC.

Em artigo veiculado na edição mais recente de Veja, Fernando Henrique Cardoso analisa as perspectivas para 2017 no mundo e no Brasil. Deu ao artigo um título sintomático: “Futuro Escorregadio”. Em relação ao resto do mundo, escreveu que o ordem mundial estará de tão modo conturbada que o mais adequado seria “qualificá-la como desordem mundial.” Sobre o Brasil, o grão-tucano espargiu no texto mais interrogações do que certezas. Condicionou a recuperação da economia à evolução da política. Tomado pelo texto, FHC não parece otimista.
Anotou: “Que fará o Brasil com a herança dubitativa do ano que termina? 2016 mostrou quanto erramos nos anos anteriores. A profunda crise fiscal, a continuidade da estagnação econômica e as altas taxas de desemprego a que chegamos —frutos dos desatinos dos governos petistas— desenham um quadro de enfermidade que requer UTI. O governo de transição que ora nos rege diagnosticou os males e está tentando um tratamento para retirar a economia da UTI. Conseguiremos?”
Prosseguiu: “Tudo dependerá de quanto avançarmos na área política. O país começa a perceber que a ‘economia do conhecimento’, baseada nas novas tecnologias, cria também uma sociedade interconectada. As novas mídias (para o bem, mas também para o risco) põem em xeque a democracia representativa: os partidos já não ‘representam’ eficientemente a população, e são objeto, junto com o Congresso, de crítica e descrédito crescentes. A nova sociedade criou canais de inter-relação imediata. Para essa inter-relação, que se faz e desfaz, importam mais as ‘causas’ do que os partidos. Nunca circulou tanta informação, mas a maior parte dela carece de averiguação, pois não há curadoria na web.”
FHC enfileirou mais interrogações: “Seremos capazes de inovar politicamente, enfrentando alguns itens da chamada ‘reforma política’? Compreenderemos que ademais precisamos alterar formas de conduta e rever valores? As mudanças culturais demandam tempo, embora haja gestos urgentes para iluminar o caminho do futuro. Nossas lideranças serão capazes de fazê-los? Espero que sim.”
A despeito de tudo, FHC consegue enxergar algo de positivo na conjuntura: “…Fortalecemos as instituições democráticas. Há trinta anos, diante do desmantelamento socieconômico e político em que nos encontramos, estaríamos balbuciando o nome de generias que ‘poriam ordem nas coisas’; hoje não os conhecemos e, em compensação, sabemos de cor o nome dos ministros do Supremo Tribunal Federal e de alguns juízes mais ativos de outras cortes. Um tremendo passo adiante.”
No último parágrafo de seu artigo, FHC escreveu o que espera do futuro escorregadio: “Desejo que em 2017 o governo tenha uma visão estratégica para melhor situar o país no tabuleiro internacional, que as pessoas saibam se posicionar diante dos desafios presentes e revigorem a autoestima. Precisamos voltar a crer em nós próprios, não pretendendo ser mais do que somos, mas não caindo no desânimo. Custou muito construir uma nação com 205 milhões de pessoas. Para mantê-la e expandi-la, precisamos revigorar a crença em alguns valores e ampliar os laços de coesão social. As diferenças entre pessoas e grupos devem ser legitimadas. Mas é importante conviver e dialogar, reconhecer quando erramos, aceitar a diversidade e dar a volta por cima em nome do interesse comum. São meus desejos para 2017.” (com Josias de Souza)

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