quinta-feira, 14 de julho de 2011

Carlos Henrique: Águas da Promissão

*Por: Carlos Henrique Leite

Jamais se viu um povo sofrido, carente e, no entanto, tão acomodado, como os filhos e habitantes do outrora heroico Vale do Piancó. De uma passividade bovina, doentia e irritante. De causar dó. Uma gente de nobres sentimentos e temente a Deus, que sempre soube agir com destemor, e se agigantava nos momentos adversos. Ganhou as páginas da história em combate sangrento contra a libertária Coluna Prestes. Angariou respeito e admiração nos enfrentamentos com o cangaço; dia e noite, chovesse ou fizesse sol, não arredava dos calcanhares de Lampião e da sua cabroeira. Para quem não sabe, o famigerado rei do cangaço, foi agraciado debaixo do sol inclemente e em plena caatinga estorricada, com um troféu para as bandas de Conceição do Piancó, uma bala certeira acomodou-se em suas ancas, e fez-lhe incômoda companhia para o resto da sua vida.
Toda esta peroração para reclamar ou, por outra, para lamentar, já que se vislumbra como fato consumado, da falta de empenho das autoridades e do povo de um modo geral, que é na prática o mais interessado, sobre a vinda tão propalada das águas do rio São Francisco. Custa entender como o rio Piancó, o segundo rio mais importante da Paraíba, em pleno semiárido nordestino, que abastece a bacia de Coremas – Mãe d`água, o maior reservatório do Estado, não irá receber uma mísera e solitária gota d`água da transposição. É bom que se diga que o rio Piancó banha vinte cidades, leva riqueza na produção do peixe e na irrigação para o plantio de alimentos para o homem e de pasto para os animais, e mata a sede de todos; sem falar que suas águas são transpostas para as várzeas de Sousa, - Canal da Redenção - e nos anos de seca quando os pequenos e médios açudes não dão contam do consumo, as comportas de Coremas são aliviadas para abastecer de água potável através de sistemasde adutoras as populações de Patos de Espinhara e circunvizinhança.
E o pior de tudo isto, é que ninguém abre a boca, ninguém se esperneia, como se tudo transcorresse em plena normalidade. Não há uma solicitação, não há um movimento de massas; as associações, os sindicatos, os partidos políticos, as câmaras de vereadores, os prefeitos, as donas-de-casa, ninguém mesmo, abre o bico, de um conformismo maledicente.
E saber que o canal da transposição contorna os limites de Conceição do Piancó, ao alcance da mão, se estirar o pescoço é o que a vista alcança; talvez, umas poucas horas de trator e a ajuda da gravidade, sejam o suficiente para canalizar as águas franciscanas para o grande rio.Primeiro, drená-las para o açude Condado, localizado próximo às cabeceiras do rio Piancó, no município de Conceição, e este perenizar o rio e levar riquezas para o vale.
Como estáposto no mapa atual, a transposição do rio São Francisco, não se configura no seio de uma dasmais importantes regiões do semiárido nordestino; e se a seca retornar, continuará a afugentar levas de retirantes sertanejos, à formar favelas nas grandes cidades. Uma injustiça inominável.
* Escritor

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