O rompimento do deputado Eduardo Cunha foi uma crônica anunciada. Ficou claro desde que a presidente Dilma Rousseff destacou Arlindo Chinaglia para disputar e radicalizar na disputa pela Presidência da Câmara federal contra Cunha. Não que isso tenha sido a causa principal. Mas, foi uma das mais relevantes. Deixou sequelas profundas.
Era evidente que, em algum momento, sob qualquer pretexto, Eduardo Cunha iria aprofundar a sua cizânia com a presidente Dilma e o PT. Dar o troco. O pretexto foi dado agora no âmbito das investigações da Operação Lava Jato, quando ele teve seu nome envolvido em recebimento de propinas. O depoimento do delator Júlio Camargo foi o que faltava.
Para Cunha seria muito mais fácil se defender da grave acusação atacando, como fez, do que simplesmente se defender. Soa bem mais palatável aos olhos da opinião pública. Então, se a presidente Dilma esperava que o deputado recuasse à medida que as denúncias se tornassem mais duras, houve um erro de cálculo. Ele também radicalizou. O rompimento foi apenas a ponta do iceberg.
O Governo Dilma, que já vive mergulhado numa crise moral sem precedentes, experimenta agora a autofagia, com o avanço de uma ala majoritária do PMDB na jugular governista. Ainda que lá também esteja o peemedebista Michel Temer. Cunha passou a agir como camicase. Se é pra naufragar no bojo da Lava Jato, então ele talvez pretenda levar o Governo Dilma junto.
Ato contínuo ao rompimento, já diligenciou a abertura de duas pesadas CPIs, seguindo inclusive o figurino de Renan Calheiros no Senado. As CPIs dos Fundos de Pensão e do BNDES têm combustível suficiente para causar estragos profundos. Basta lembrar que um dos principais alvos das investigações em torno do BNDES é o ex-presidente Lula, ícone e bandeira do PT.
E, quer queira, quer não, é Lula com seu PT que ainda dá sustentação à presidente Dilma. O momento é extremamente delicado. Um dos mais preocupantes da história recente do País. Ainda mais que os olhos esbugalhados de Eduardo Cunha, com ameaça velada de “explodir do Governo Dilma”, lembram aqueles olhos também estufados de Pedro Collor que, após entrevista à revista Veja, iniciou a operação que derrubou o irmão, Fernando Collor, da Presidência da República.
O rompimento de Cunha, com a instalação de duas CPIs da pesada, abre caminho para o início de um processo de impeachment, é inegável. Horas após romper e anunciar a criação das CPIs (uma terceira comissão irá apurar maus tratos contra animais), Eduardo Cunha consultou o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) para que ele reapresente um pedido de impeachment contra Dilma, que havia protocolado em março deste ano, por crime de responsabilidade.
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