* Carlos Henrique Leite
Não
há mal que dure para sempre, nem bem que se eternize. A sociedade brasileira,
ou parte dela, parece que afinal começa a despertar da letargia, do berço
esplêndido.Aqui,ali e acolá, surgem, ainda que sem muita convicção, de
maneiratímida, sinais de inconformismo, de indignação, contra a chaga social
que é essa corrupção patológica que se acomodou nas entranhas da República e se
afigura um mal incurável.A corrupção é uma herança maldita, que se aperfeiçoa
no dia a dia nos gabinetes alcatifados,nos porões, nas esquivas e logradouros
públicos, passa de geração em geração, e para o pesar de toda uma nação, está
bem enraizada,sólida, já faz parte dos hábitos e costumes de todas as classes
sociais, sem exceção.Teme-se que a qualquer momento seja criado o dia nacional do
corrupto, ou mesmo, que seja proclamada em nossas assembleias, uma moção de
aplausos aos bons serviços prestados à comunidade. Tal o grau de sofisticação e
cinismo que alcançou no decorrer desse tempo. A corrupção tornou-se regra,
honestidade é a exceção. O mau caratismo se impregnou de tal forma que se
tornou rotineiro. O feio, o tolo, o atrasado, hoje em dia, é não burlar as
instituições, os cofres públicos; o sujeito honesto não tem a menor serventia.
Faz algum tempo que quando alguém era pego no malfeito, com a mão na massa, na
sujeira, se envergonhava, enrubescia, fugia das pessoas; houve caso, em que o
indigitado chegava ao extremo de cometer suicídio, por não ter condições de
encarar as pessoas. Hoje isso não existe mais, o notório corrupto, desfila rua
acima, rua abaixo, lépido e fagueiro, e o largo sorriso estampado na face.
Fala-se muito, chega-se mesmo a lançar
toda a culpa desta praga que infesta opaís, noespinhaço da classe política
brasileira, nos políticos em geral. Nada mais enganoso e simplista.Os políticos
são nossos amigos, nossos parentes, nossos vizinhos, em suma, somos nós mesmos,
portanto, nada mais injusto atribuir aos políticos a pecha de gatunos
inveterados e farsantes; os culpados, na verdade, convivemharmoniosos em todas
as classes sociais; se os políticos são corruptos, é porque todos somos
corruptos, a malversação não é privilégio de nenhuma classe em particular. Xô,
sociedadezinha corrupta!
E
o que dizer da justiça brasileira?Com certeza, não faz a sua parte. Enquanto o
Ministério Público, a Controladoria Geral da União, os
Tribunal de Contas, a Polícia Federal, não dão sossego aos malfeitores, a
Justiça faz de conta que não é com ela, se mantém numa indiferença olímpica.A
impunidade que assola o país é na verdade a grande incentivadora da formação de
quadrilhas que dilapidam o erário público. Na primeira instância há um certo rigor,
juízes jovens, concursados; mas, nos tribunais superiores a coisa desanda, os
ministros estão mais preocupados com teses acadêmicas, teorias sociológicas;
perdem muito tempo com aqueles calhamaços de votos enfadonhos que não se acabam
mais.
* Escritor
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