Neste
ano da graça de2012, comemora-se o centenário do lançamento do ¨EU¨ único livro
do genial poeta paraibano Augusto dos Anjos. Um livro que causou impacto pela
crueza da abordagem de temas até então banidos do universo poético,
insociáveis, ou, como diziam uns poucos críticos, de puro mau gosto. Na época do lançamento, que se deu no Rio de
Janeiro, havia o predomínio de uma poesia festiva, de salão, parnasiana, e já
se antevia os albores do simbolismo, com uma visão subjetiva e o desvelo
estético. Nesse ambiente de descontração e leveza, irrompe Augusto dos Anjos com
um grito de agonia e lamentos de dor. Sua poesia evocava morte, tristeza,
cemitério e verme. ¨O poeta da morte e da tristeza¨, como é conhecido. O susto
foi medonho. A maioria torceu o nariz, não podia concordar com tamanha
aberração, delírio de uma alma atormentada, urros de um poeta excêntrico. Tudo
muito compreensivo para a época.
Felizmente
essa rejeição, não resistiu ao tempo, se rendeu ao talento do vate. O que
parecia esquisito, extemporâneo, funesto, soava musicalmente. De fato, a poesia
de Augusto dos Anjostem sonoridade, soa como música, umrasgo da genialidadedo
poeta. Qualquer outro poetaque usassede termos científicos, vocábulos incomuns,
em certos casos até difíceis de pronunciar, imagens incompreensíveis para os
mortais comuns, caso inédito na literatura brasileira, e, talvez, mundial, seria
apontado como mentalmente enfermo. Com Augusto dos Anjos, não, o que poderia
parecer esdrúxulo, repugnante, fora de propósito, soa como uma música divina, tem
uma sonoridade que encantae enternece. Essa musicalidade que emana dos versos
lastimosos faz bem aos ouvidos, faz com que esse grito sufocado de uma alma aflitiva
ganhe suavidade e se impregne nas pessoas de forma a não se desprender nunca mais.
Ouvir uma vez um verso de Augusto dos Anjos é não esquecer jamais; mesmo sem
entender nada, Que importa! É outra vertente da poesia de augusto dos Anjos; a
atração que ela exerce nas pessoas independente do seu nível social e
intelectual; a pessoa entenda ou não, gosta assim mesmo. Diria até, sem nenhum
exagero, que ler uma poesia de Augusto dos Anjos é mais que ler uma poesia, é se
deleitar com uma partitura; mas, não uma partitura qualquer, teria de ser ao
nível de um Beethoven, de Bach, de Wagner, ou de Ernesto Nazaré.
Sem
querer causar nenhum sobressalto, diria, que o poeta Augusto dos Anjos, de
erudito, cientificista, tornou-se com o tempo, também popular.Calma gente, eu
explico:o sujeito chega num botequim, na presença da corriola ruidosa, começa a recitar um soneto do poeta. De repente, faz-se um
silêncio de convento, todas as atenções para o soneto. Embora não estejam
entendendo nada; mas, estão gostando. E o importante no caso é gostar, entender
é outro assunto.
CARLOS HENRIQUE LEITE – escritor.
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