Obedecenco a um ciclo de conferências, organizado pela Câmara Municipal de Piancó, que reunida extraordinariamente dias atrás convidou o escritor e ex-deputado constituinte Agassiz Almeida a abrir os debates e estudos sobre a atual conjuntura do país, e particularmente, abordar o filme "Cães e Homens", como projeto de produção já aprovado pelo Ministério da Cultura, e cujo roteiro baseou-se no livro "A Ditadura dos Generais", obra considerada um clássico da literatura nacional.
Presidindo a sessão, o vereador José Bráulio Júnior ressaltou a importância da presença do escritor Agassiz Almeida, no Vale do Piancó, hoje um dos grandes ensaistas brasileiro, cuja obra vem despertando segmentos do país. Segundo o conferencista, o Procurador de Justiça Paulo Barbosa destacou a importância da obra de Agassiz na literatura do país, e a sua marcante atuação na Assembléia Nacional Constituinte em 1986, através da qual conseguiu aprovar como textos constitucionais 67 emendas à atual Carta Magna do país.
Desde a sua juventude, acrescentou Paulo Barbosa, Agassiz Almeida é um irrequieto. Fundou faculdades, cooperativas, ligas camponesas e descobriu minérios. Atingido violentamente pelo Golpe Militar de 1964, recaindo contra ele prisão em Fernando de Noronha, cassação de mandato de deputado estadual e demissão das funções de Promotor de Justiça e professor da UFPB, mesmo assim Agassiz não se curvou à Ditadura Militar.
Estamos aqui, sublinhou Paulo Barbosa, para ouvir Agassiz Almeida falar sobre o filme "Cães e Homens" baseado no livro A Ditadurea dos Generais, peça cinematográfica já aprovada pelo Ministério da Cultura que irá, decerto, abrir uma nova visão para a cinematografia brasileira. Usando a palavra, Agassiz, visivelmente emocionado recordou a sua passagem pela região a cerca de meio século atrás, quando recém-formado, ainda muito jovem, fez o seu primeiro Júri como advogado de acusação contra poderosa ré.
"Antes que me falem, que homenagear a história de homens que por esta terra passaram e encheram as suas vidas com lutas e sonhos neste Vale do Piancó, entre eles, os Ferreira Leite, galardoado na personalidade inquebrantável de Felizardo Leite, nas décadas de 20 e 30 do século passado. O que me trouxe até aqui, convocado por esta Câmara de Vereadores? A influência que a história, a cultura, a valentia digna, a tenacidade, a energia desta civilização de homens lutadores plantada há mais de 300 anos no Vale do Piancó, tiveram na elaboração do meu livro A Ditadura dos Generais", disse.
"Neste livro, baseou-se o filme "Cães e Homens", que irá, decerto, segundo críticos, despertar um novo visor para a nossa arte cênica. Aqui, por estas terras do Vale do Piancó, colonizadores da envergadura de Teodósio de Oliveira Ledo, meu ancestral, Domingos Jorge Velho, o índio Piancó, e homens valentes como Felizardo Leite, os combatentes da Coluna Prestes, simbolizados na resistência e bravura do capitão Pretinho, eles deixaram as suas flamas na formação desta civilização progressista e forte", completa.
"Que homens valentes! Olhando-os eu pude dimensionar quão de covardia se transvestiram os militares das ditaduras fardadas da América Latina do século XX. Diziam-se defensores do Estado Democrático, mas à sombra dele quanto de crimes abomináveis praticaram! Que infame covardia! Arrastar o ser humano ao cárcere, torturar, matar, e por fim desaparecer com o seu corpo. Esses foram os 'vencedores' da pútrida guerra que desencadearam. O filme "Cães e Homens" projeta este cenário de homens-caninos nos calabouços e porões da ditadura militar. Este falso valente é um infame. Ele tem a cara execrável e a consciência da própria vilania", ainda comenta.
"Na construção da obra A Ditadura dos Generais, eu ouvi a voz dos grandes revolucionários. li o escrito de pensadores universais, calei-me para melhor compreender a história de homens fortes que colonizaram nações com os seus heróis de sonhos e utopias, nos quais embalei meus pensamentos, e afinal, com os idealistas formei a minha ideologia e uma nova visão do mundo. Todo aquele que norteia o seu viver por estes pensamentos é capaz de criar com o seu esforço o seu próprio destino. Adversos a estas grandezas de caráter, certos tipos humanos se despem de quaisquer sentimentos de dignidade", pontua.
Por fim, Agassiz conclui dizendo: "O que visualizamos nos dias atuais? Um cretinismo soberbo em que se dão as mãos um militarismo caolho e tipos humanos a comandar uma politicagem de quintal". (Com AntônioCabral)
Agassiz Almeida - deputado constituinte de 1988. Um dos autores de emendas à Assembléia Nacional Constituinte que criou o Ministério da Defesa e tipificou a tortura como crime impescritivel e não passível de anístia ou indulto. escritor do grupo Editorial Record. Autor destes clássicos da literatura brasileira: A República das Elites e A Ditadura dos Generais. Promtor de Justiça aposentado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário