Jesus nasceu
pobre, na periferia, distante dos palácios, das riquezas. Como pobre, sentiu as
dores do povo oprimido, injustiçado, ferido na sua dignidade de pessoa humana.
Aliás, toda sua vida foi voltada para os pobres. Basta ver o sermão da montanha.
É natal!
Muita luz, muita festa, muita música e muito enfeite. Na noite de natal, haverá
muitos banquetes, muita comilança. Nas mansões, o clima é de grande festa. Cada
um com sua roupa caríssima, elegância fora do comum. Tudo é encantador,
maravilhoso, emocionante: Comidas, bebidas, músicas, desfiles de modas. Porém,
o Jesus pobre, esfarrapado e humilhado, na pessoa dos famintos, doentes,
presos, injustiçados, não será o centro da festa. Para essa gente, esse Jesus
não existe.
É natal! Na
noite de natal, milhares de crianças vão morrer de frio, de sede, de fome...;
Muitos irmãos nossos vão clamar, no seu mais profundo silêncio, por justiça,
por dignidade, por vida.
É natal! No
dia do nascimento de Jesus pobre, esfarrapado, milhões de seres humanos estarão
gritando: socorro! Falta pão na nossa mesa.
É natal!
Neste dia, muitos animais de estimação estarão com suas roupas novas, de
marcas, banhados e cheirosos, comendo comida especial, mas as criancinhas
preferidas de Jesus vão dormir chorando pedindo um pouco de pão.
É natal!
Aqui no sertão paraibano, neste dia de natal, os clamores dos pobres por
justiça social, por dignidade, por liberdade, por pão e água chegam aos ouvidos
de Deus.
É natal! Em
Pedra Branca, onde moro, vejo tantos
pais e mães clamando pelos seus filhos: roupa ,alimento, remédio, cadeira de
roda, água ,dignidade.
É natal! Os
pobres comem um pouco de feijão, arroz e um pedaço de carne, enquanto os ricos
se deleitam com suas comidas caríssimas. Então, é natal dos pobres e dos ricos?
É natal!
Políticos, sem escrúpulos, aumentam seu próprio salário. Enquanto o povão
sobrevive graças a um famigerado salário mínimo.
É natal!
Relativismo religioso, secularismo, absolutização do poder, do ter; abandono
dos valores evangélicos.
É natal!
Alienação política, terrorismo político-cultural, reacionarismo religioso,
relativismo ético-moral, consumismo, idolatria do mercado. É natal dos
endinheirados, dos consumistas.
É natal!
Desprezo à pessoa humana, fome, miséria, sede, guerra, desemprego, injustiça
social. Quanta hipocrisia na noite de natal!
É natal! Tantas
vezes cristãos compromissados com o reino de Deus, com a justiça social são
vítimas de calúnias, difamações, de violência.
É natal! O
padre quando luta para que o povo de sua comunidade viva com dignidade passa a
ser vítima dos poderosos e de seus comandados.
É natal!
Quando o padre fala de anjos, de coisas do outro mundo, leva o povo ao delírio psíquico,
é santo, é padre dez; quando fala das injustiças que agridem a dignidade da
pessoa humana, e chama, em nome da fé, a
lutar contra esse mal, logo é tachado de demônio, de desobediente à Igreja.
É natal!
Quando o padre vive só de louvar a Deus é rotulado de padre verdadeiro; quando
faz o povo tomar consciência dos seus
direitos inalienáveis , alguns dizem: vamos fazer abaixo assinado para tirá-lo,
ele é perigoso.
É natal!
Milhares de pessoas, no meu sertão, bem no vale do piancó, gritam: bebemos água
imprópria para o consumo humano.
É natal!
Milhares de estudantes, no vale do piancó, clamam: por que na nossa região não
há um campus da UFCG E UEPB? Temos o direito de fazer um curso superior, mas
nos é negado este sagrado direito.
É natal! No
meu sertão paraibano, quantas pessoas clamando por assistência-médico-hospital
com dignidade.
É natal! No
vale do piancó, as pessoas que desejam uma consulta médica ou odontológica têm
que pegar a fila ainda de madrugada. Só assim, conseguem uma ficha. Imagine
acordar-se de madrugada para conseguir uma ficha.
É natal!
Corrupção nas esferas públicas reina neste Brasil. E os pobres sofrem as
terríveis consequências.
É natal!
Quando uma autoridade, seja quem for, tenta combater a corrupção existente
neste País, passa a ser destratada, caluniada, sofre reprimenda por parte dos seus superiores.
É natal! Muitas
orações, muitas celebrações, muitos louvores, muitos aplausos para Jesus,
muitas mensagens de felicitações, muitas confraternizações, porém, pouca
sensibilidade humano-cristã diante dos sofrimentos de tantos irmãos nossos,
vítimas da fome, da miséria, da sede...
E o natal?
Na criança faminta, no doente mal atendido nos hospitais, na pessoa
desempregada, nos agredidos em sua dignidade de pessoa humana, nos pobres, nos
favelados, nos sem vez e voz. Então é natal de Jesus na pessoa dos pobres!
É natal em
cada Belém deste recanto paraibano.
Padre Djacy Brasileiro,
em dezembro de 2011.
Twitter: @padredjacy
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