Uma desavença interna ameaça um acordo firmado para acomodar os caciques da bancada do PMDB no Senado. É que um imprevisto atravessou a articulação de Renan Calheiros, que espera ser alçado à cadeira de presidente da Casa. A discórdia envolve não a restauração dos bons costumes no Senado, mas a partilha de posições no organograma do poder na Casa.
Ao retirar-se para as férias, em dezembro, Renan imaginava ter pacificado a bancada de 20 senadores que lidera no Senado. Voltaria ao trabalho nesta terça (29), marcaria uma reunião para quinta (31), seria oficializado como candidato do PMDB à sucessão de José Sarney e correria para o abraço na sexta (1º), recolhendo os votos da maioria dos outros 80 senadores. Por que deu chabu? Descobriu-se que há mais caciques no PMDB do que tabas para acomodá-los no Senado.
Na divisão mediada por Renan, ficara entendido que ele retornaria à presidência, Eunício Oliveira (CE) o substituiria na liderança da bancada, Vital do Rêgo (PB) assumiria a cadeira de Eunício no comando da [poderosa] Comissão de Justiça, e Romero Jucá (RR) iria para a segunda vice-presidência do Senado. A coisa começou a desandar ainda durante o recesso parlamentar.
Jucá informou que deseja ser líder da bancada, não segundo vice-presidente. E Eunício, que não abre mão do posto, cobra agora de Renan o cumprimento do acordo. Para complicar, começou a circular nos subterrâneos da legenda um burburinho sobre a necessidade de compensar José Sarney, convertendo-o em presidente da Comissão de Justiça – aquela que fora prometida ao senador Vital.
Um pedaço da bancada do PMDB olha ao redor e se dá conta de que o grupo de Sarney e Renan, insatisfeito com o controle de tudo, deseja algo mais. Um dos senadores insatisfeitos resumiu a cena: “Na presidência do partido está o Valdir Raupp, homem deles. Renan quer voltar ao comando do Senado. Sarney deseja a comissão mais importante. O Jucá, ligadíssimo a ambos, reivindica ser o líder. O resto vai bater palmas? Não creio.”
Nesta terça, Renan será alertado: se a cadeira de líder tiver que ser disputada no voto, pode surgir um outro candidato para medir forças também pela indicação do PMDB à presidência do Senado. Nessa hipótese, os insurretos buscarão um nome com a biografia leve. Alguém com potencial para atrair no plenário os votos de senadores de outras legendas que ainda se dão ao trabalho de torcer o nariz para Renan.
Junto com a encrenca caminha um esboço de solução. Hoje, Renan acumula duas lideranças. Além de líder da bancada do PMDB, representa no plenário do Senado o bloco da maioria, que inclui o PT e o PV. Cogita-se entregar a liderança do PMDB a Eunício e o comando do bloco a Jucá. Renan tem 48 horas para pacificar os ânimos dos seus liderados. Do contrário, pode surgir um nome novo - ou seminovo- no PMDB. (Josias de Souza)
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